
Ao escolher um banco de dados para um sistema empresarial, diversos fatores devem ser considerados, incluindo recursos, escalabilidade e, principalmente, desempenho. Neste artigo, realizamos um comparativo entre Firebird e PostgreSQL, analisando a performance de consultas SELECT em alguns cenários de execução do sistema.
O objetivo aqui não é eleger um vencedor, mas demonstrar como cada banco de dados se comporta em situações comuns de leitura de dados. Para isso, aplicamos testes que simulam acessos locais ou em rede, considerando o tempo médio de resposta como métrica.
Ambiente de Testes
O ambiente de testes foi configurado utilizando as versões Firebird 3.0.12 e PostgreSQL 17.1, com as configurações padrão de cada banco de dados, em uma estação com Windows 10 ou Windows 11. Além disso, as mesmas versões dos bancos de dados foram instaladas em um servidor com Rocky Linux 8.10.
A conexão com os bancos de dados foi realizada via um aplicativo escrito em C# com .NET Framework 4.8, utilizando as versões mais recentes das bibliotecas NuGet FirebirdClient (para Firebird) e Npgsql (para PostgreSQL).
Antes da execução dos testes, foi realizado um processo de backup e restore em ambos bancos, com o objetivo de remover registros inválidos e otimizar o desempenho geral.
Metodologia Utilizada
Selecionamos algumas tabelas previamente populadas e idênticas (mesmo número de registros, colunas e tipos de dados) entre ambos bancos e utilizamos o comando de seleção (SELECT), com poucas ou nenhuma união (JOINS). Realizamos cada teste 3x, cronometrando o tempo total da operação e calculando uma média entre os três valores. Para evitar que algum cache afetasse as medições, finalizamos o aplicativo no final de cada teste, antes de iniciarmos a próxima execução do mesmo.
Em cada teste, o aplicativo conecta no banco, executa uma consulta previamente estabelecida e retorna o resultado em um DataTable, exibindo uma mensagem com o tempo total de execução (em milisegundos) conforme trecho de código abaixo:
// Inicia Contador de Tempo
Stopwatch stopwatch = Stopwatch.StartNew();
// Preenche DataTable
TabelaBLL obj = new TabelaBLL();
DataTable dataTable = obj.FillGrid();
// Interrompe Contador de Tempo
stopwatch.Stop();
// Exibe Mensagem no Console com o Tempo Total de Execução
Console.WriteLine($"Tempo Total: {stopwatch.ElapsedMilliseconds} ms"); {codeBox}
Os testes utilizam 3 tabelas com os seguintes parâmetros em ambos os bancos:
- Tabela A: 58 colunas, 8.250 registros e 710 registros retornados na consulta.
- Tabela B: 17 colunas, 381.000 registros e 162.000 registros retornados na consulta.
- Tabela C: 59 colunas, 2.290.000 registros e 220.000 registros retornados na consulta.
Teste A: Avaliação Local na Estação
Apesar de muitos sistemas empresariais não possuírem banco de dados na mesma estação, o teste pode demonstrar se existe alguma diferença de performance entre os bancos de dados.
Nesse cenário, para tabelas com poucos dados (Tabela A), o Firebird possui uma performance superior ao PostgreSQL. Porém, em tabelas com maior quantidade de dados (Tabela B e Tabela C), o PostgreSQL demonstra uma melhor performance nas consultas.
Na média geral dos tempos de resposta entre as tabelas, o Firebird registrou 6628ms (aproximadamente 6,6 segundos), enquanto o PostgreSQL obteve 3511ms (cerca de 3,5 segundos).
Teste B: Avaliação na Rede Local
Esse teste contempla cenários onde o sistema empresarial é executado na infraestrutura local da empresa (on-premises), em uma configuração cliente - servidor. Nesse cenário, o cliente refere-se à estação onde o aplicativo de testes é executado, enquanto o servidor é o dispositivo que hospeda o banco de dados. Tanto a estação como o servidor estão na mesma Rede Local (LAN) com transmissão de alta velocidade (Rede Gigabit).
Geralmente, o servidor é um equipamento com hardware dedicado, projetado para fornecer recursos superiores em termos de CPU, memória, armazenamento e rede em comparação a estações de trabalho comuns. Ele é frequentemente configurado para virtualização, permitindo a execução de múltiplas máquinas virtuais de forma eficiente. Sua principal função é gerenciar as conexões dos clientes, garantindo que as requisições sejam atendidas de forma eficiente, além de processar as consultas ao banco de dados e realizar outras operações de alto desempenho, como gerenciamento de transações e operações de backup. {alertInfo}
No cenário descrito, observamos um resultado semelhante ao do Teste 1: o Firebird apresenta melhor desempenho em consultas a tabelas com poucos dados, enquanto o PostgreSQL se destaca em tabelas com grande volume de informações.
Na média geral dos tempos de resposta entre as tabelas, o Firebird registrou 5136ms (aproximadamente 5,1 segundos), enquanto o PostgreSQL obteve 2642ms (cerca de 2,6 segundos).
É importante ressaltar que, como este teste foi realizado utilizando um servidor com hardware dedicado, o acesso aos dados foi mais rápido em comparação ao Teste 1, que utilizou uma estação local. Essa diferença pode estar relacionada tanto ao hardware mais robusto do servidor quanto ao fato de ele possuir mais otimizações por operar em um ambiente Linux.
Teste C: Avaliação na Rede Remota
Este teste abrange cenários em que o servidor está hospedado na infraestrutura local da empresa, enquanto o cliente acessa o sistema remotamente por meio de uma VPN IPSEC ou SSL. Esse modelo é classificado como on-premises com acesso remoto seguro, pois, embora o servidor permaneça na rede interna da empresa, os clientes se conectam externamente de forma protegida. Para conexão remota, foi utilizado um link dedicado de fibra ótica de 100Mbps.
Os testes realizados evidenciam uma diferença significativa de desempenho entre os bancos de dados, chegando a 4.950% quando o acesso aos dados ocorre por meio de uma conexão remota via VPN.
Na média geral dos tempos de resposta entre as tabelas, o Firebird registrou 236543ms (aproximadamente 236,54 segundos ou em torno de 3,57 minutos), enquanto o PostgreSQL obteve 4680ms (cerca de 4,7 segundos).
Essa diferença ocorre porque o Firebird não foi projetado para operar de forma eficiente em ambientes distribuídos pela internet, pois seu desempenho é altamente impactado por fatores como latência e jitter dos links de dados.
Firebird vs. PostgreSQL: Considerações Finais
Os testes realizados demonstram que, embora o Firebird seja um banco de dados sólido para ambientes on-premises, seu desempenho em conexões remotas pela internet é significativamente afetado por latência e jitter, tornando-o menos adequado para essa finalidade. Versões mais recentes, como o Firebird 4 e Firebird 5, podem ter evoluído nesse aspecto, mas ainda não há informações concretas que confirmem uma melhoria substancial nesse tipo de cenário.
Apesar dessa limitação, o Firebird continua sendo um banco de dados leve, simples e confiável. Com mais de duas décadas de experiência utilizando-o em dezenas de sistemas, posso afirmar que ele se mostrou bastante estável. Mesmo em situações onde houve falhas inesperadas, sempre foi possível recuperar o banco, exceto em casos de danos físicos ao armazenamento, onde a solução depende de boas práticas como RAID, backups e redundância (algo que se aplica a qualquer tecnologia de banco de dados).
Por outro lado, o PostgreSQL demonstrou um desempenho muito mais eficiente em ambientes distribuídos, sendo amplamente utilizado em sistemas na nuvem (cloud). Como um banco de dados open-source, ele se destaca não apenas por ser gratuito, mas também por oferecer um conjunto de funcionalidades comparável a soluções robustas como Microsoft SQL Server e Oracle, incluindo controles avançados, desempenho otimizado e ampla escalabilidade.
Portanto, a escolha entre Firebird e PostgreSQL depende do ambiente e das necessidades do projeto. Para aplicações locais e de menor complexidade, o Firebird continua sendo uma solução viável. Já para sistemas distribuídos, especialmente aqueles que exigem acesso remoto estável e seguro, o PostgreSQL se mostra uma opção mais adequada.